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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Crítica – Filmes: Os Novos Mutantes

 


Urso nada carinhoso

Alexandre César 


Filme funcionaria melhor como episódio de série

 

 

 

Desde que a Twentieth Century Fox foi comprada pela Walt Disney Company, sendo reformatada na 20th Century Studios retirando a “raposa”(fox) da jogada (afinal a Disneyé a “companhia do rato”e raposas são predadores de roedores...) as propriedades da Marvel Entertainment que estavam sob o seu guarda-chuva foram sendo assumidas fazendo com que muitos projetos que estavam em desenvolvimento foram cancelados, adiados e outros, ficaram num limbo em que hora as filmagens eram paralisadas por um eventual cancelamento do filme, hora eram retomadas com alterações drásticas de roteiro e orçamento e hora adiadas para mais adiante em função de fatores internos como as mudanças do quadro corporativo do estúdio, ou de externos como a pandemia do Corona Vírus que caiu com uma bomba nuclear no setor cultural e cinematográfico, com poucas possibilidades de retomada das atividades num curto prazo. Produções nesta situação na sua maioria acabaram migrando para o streaming, ou foram ficando arquivada esperando uma lançamento futuro e nesta situação amargaram fria recepção do público tanto por causa da escassa afluência do público às salas, quanto pelos próprios filmes em si, que acabaram não superando a sua gênese conturbada.
 

 
Surgidos como o grupo juvenil do universo mutante, os Novos Mutantes eram um grupo muito popular, rivalizando com os X-Men em muitos momentos marcantes de sua história.
 
 Dra.Cecilia Reyes (Alice Braga) a diretora da instalação... 

 
 Dirigido por Josh Boone (A Culpa é das Estrelas) que assina o roteiro, junto com Knate Lee (O Sequestro) e baseado nos personagens criados por Chris Claremont e Bob Mcleod e no arco de histórias desenhadas por Bil Sienkiewicz, Os Novos Mutantes (2020) tenta ser um filme de origem do grupo apostando num filme de terror bem estilo anos 70, auxiliado pela edição de Andrew Buckland (Ford vs. Ferrari), Matthew Rundell (Bent) e Robb Sullivan (Um Bom Ano) que atenuam as várias mudanças narrativas ocorridas ao longo das idas e vindas da produção, refletindo as dificuldades já citadas no primeiro parágrafo deste texto.
 
Danielle Moonstar (Blu Hunt) a mutante Miragem, tem  as suas habilidades testadas...

 
Rahne Sinclair (Maisie Williams) a Lupina tem momentos de romance lésbico com  Moonstar...

Acompanhamos a jovem Danielle Moonstar (Blu Hunt de Outra Vida), que nos quadrinhos atende pelo codinome Miragem, que é a única sobrevivente de um “acidente” que devastou o seu lar numa reserva indígena, tendo matado o seu pai (Adam Beach de A Conquista da Honra) e acordando num centro de pesquisas cercado por uma barreira invisível, tendo como companhia outros jovens que segundo a Dra. Cecilia Reyes (Alice Braga de Elysium) administradora e terapeuta do centro, são mutantes como ela, devendo aprender a usar os seus poderes para poder voltar ao meio social sem ameaçar as pessoas comuns. são mutantes, tendo como colegas de terapia Rahne Sinclair, a Lupina (Maisie Williams de Game of Thrones) cujos poderes metamórficos lhe permitem virar uma loba, cujo trauma foi ter sido acusada de bruxaria pelo Reverendo Craig (Happy Anderson de Expresso do Amanhã) que a marcou à ferro em brasa, trauma similar ao de Sam Guthrie, o Míssil (Charlie Heaton de Stranger Thinngs) jovem de origem humilde, capaz de mover-se no ar gerando um campo de proteção em torno de si, mas na primeira manifestação de seu poder, numa mina de carvão one trabalhava, inflamou os gases de seu interior, matando o seu pai (Thomas Kee de Afunde o Navio) e vários mineiros; não muito diferente de Roberto da Costa o Mancha Solar (Henry Zaga de The Stand) filho de uma rica família brasileira (não explicada) cuja habilidade de manipular energia solar se manifestou durante um “amasso” com a namorada, fritando-a; e por último temos Illyana Rasputin*1
(Anya Taylor-Joy de Vidro), a Magia, cujos poderes incluem capacidade limitada de teleporte e poder criar uma armadura e uma espada em todo o seu braço direito sempre com atitude agressiva e usando um fantoche de luva para representar o seu amigo imaginário, o Dragão Lockheed*2, tendo sido molestada sexualmente quando criança (Colbi Gannett de Castle Rock) e revivendo o seu molestador como o homem sorridente (Dustin Ceithamer e voz do cantor Marilyn Manson).
 
O Homem Sorridente (Dustin Ceithamer e Marilyn Mason) a figura dos pesadelos de Illyana Rasputin...

 
Reyes usa o seu poder de gerar campos de força para conter os jovens...

 
Os jovens acreditam estarem sendo preparados para integrar os X-Men quando tiverem alta, mas desconhecem que está por trás da administração do centro, que aliás, tirando Reyes (cuja atitude lembra a enfermeira Ratched de Um Estranho no Ninho) está sempre vazio como uma casa mal-assombrada como o Hotel Overlock de O Iluminado e embora Roberto cozinhe e os outros adolescentes mantenham os seus quartos em ordem e levem as roupas de cama para a lavanderia, uma instalação daquele tamanho deveria ter uma equipe de manutenção para manter tudo limpo, organizado e funcionando, mas só vemos Reyes, o que enfatiza o senso de alienação dos jovens, coisa bem explorada pela fotografia de Peter Deming (Twin Peaks: O Retorno) e que a música de Mark Snow (Arquivo X) sublinha de forma sutil.
 
Moonstar é atormentada por seus fantasmas...

 
O inimigo principal da trama é o Urso Místico, entidade surgida das projeções desordenadas dos poderes de Moonstar, ganhando vida própria, e sendo capaz de alimentar-se das energias humanas negativas do medo, ódio, arrogância, assumindo a forma dos “fantasmas” que atormentam o grupo.
 
Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy ) a Magia e o Dragão Lockheed, que nos quadrinhos é da mutante Kitty Pryde, a Lince Negra...

 
O desenho de produção de Molly Hughes (A Culpa é das Estrelas), a direção de arte de Ravi Bansai (No Limite do Amanhã), Loic Zimmermann (O Chamado da Floresta) Steve Cooper (A Qualquer Custo) e a decoração de sets de Merissa Lombardo (Suspíria: A Dança do Medo) trabalham bem os espaços assépticos e frios do centro que a toda a hora passa uma idéia de um lugar de fachada, mas sem conteúdo, como na cena do relógio do campanário em que Danielle chuta uma saída na torre e vemos do lado de fora que é uma tábua pintada, junto com outras que fazem o mostrador do relógio, mas não há mecanismo naquele espaço. Os figurinos de Leesa Evans (Mentes Sombrias) e Virginia Johnson (O Dia do Atentado) são contidos definindo os personagens com trajes simples e casuais poi ainda estão formando suas personas heróicas, e Reyes com seu impecável jaleco e visual asséptico nivela a todos.
 
O fanatismo religioso tem peso no histórico de abuso de Rahne Sinclair...

 
As mudanças decorrentes das paralisações, retomadas das filmagens (as filmagens começaram em 2017, com várias interrupções e retomadas) e, dos cortes orçamentários se refletem nos efeitos visuais de Double Negative (DNEG), Method Studios, Moving Picture Company (MPC), Zero VFX, Captured Dimensions e Lidar Guys (estas duas últimas no escaneamento 3D) que alternam o muito bom com o “apenas OK”, e momentos com visual bem videogame à lá Silent Hill, mas nem sempre essa passagem de um tom para o outro fica satisfatória.
 
Illyana Rasputin,  Roberto da Costa (Henry Zaga), Rahne Sinclair e Danielle Moonstar passam duras penas no Instituto...

 
O "Urso Místico" o "Bicho-Papão" que persegue Danielle Moonstar...

 
Ao final Os Novos Mutantes não chega a ser ruim, mas provavelmente funcionaria melhor como um piloto de série, sendo logo seguido semana a semana por um novo episódio que iria acrescentando camadas à trama e a seus personagens, do que como um filme que junto com seu elenco, se esforça, mas dá a entender que muita coisa ficou de fora.
 
Os efeitos visuais do "Urso Místico" variam de qualidade...

 
 
Que a Marvel Studios tenha melhor sorte...
 
 
 
 Notas:
 
Piotr Nykolayevitch Rasputin, o Colossus, irmão de Illyana em suas primeiras aparições nos quadrinhos...

*1: Nos quadrinhos Illyanna Nikolievna Rasputin é a irmã caçula do X-Men Piotr Nikolievich Rasputin o Colossus, tendo aos seis anos sido sequestrada pelo vilão Belasco para a dimensão do limbo, onde devido à diferença da passagem do tempo entre as dimensões, embora ela tenha ficado presa por minutos lá, ela passou sete anos, sendo iniciada nas artes da magia negra e sofrendo vários abusos psíquicos, retornando do limbo como uma garota de treze anos e, desde então trilhou caminhos conturbados lutando com suas trevas internas.
 
Illyana Rasputin, a Magia, é expert em artes místicas...


 
 
 
 
Lockheed, o mascote de Kitty Pryde...

*2: Diferente do filme, onde é uma projeção dos poderes psíquicos de Illyanna Rasputin, Lockheed é o mascote da X-Men Kitty Pride, a Lince Negra, sendo na verdade um alienígena que ela encontrou durante um confronto do grupo com a Ninhada, raça alienígena similar em visual aos aliens do cinema, e desde então virou personagem fixo do grupo,
 
 
 
- "Acreditem na gente!!! Por favor"...

 
 
 
 
 
 

 

 

Crítica - Séries: Penny Dreadful: Cidade dos Anjos - 1ª Temporada

 


Raízes do conflito

por Alexandre César


O horror atravessa o mar e segue em spin-off promissor

 

 Confito: Santa Muerte (Lorenza Izzo) Magda (Nathalie Dormer)

-“Haverá uma época em que o mundo estará preparado para mim. Quando nação lutar contra nação, quando a raça devorar a própria raça, quando irmãos matarem irmãos até que não sobre nenhuma alma. E neste dia um líder surgirá e colocará todos os reinos em guerra e todas as raças contra si. Um dia que o poder das trevas se alinhará e o mundo estará pronto para queimar. E só será necessário apenas a última fagulha.”
 
-“Mas há muitos cadáveres para coletar. Por todos os lugares que olho e cada passo que dou, atravesso essa agonia. Não tenho bons sentimentos pelos homens.”
 

 
 Duas irmãs em luta. Uma, a Santa Muerte (Lorenza Izzo de Era Uma Vez em... Hollywood) um anjo que não tem compaixão pelos homens, não interferindo nas suas escolhas. A outra, Magda (Nathalie Dormer de Game of Thrones) uma entidade que não hesita em sussurrar nos ouvidos dos mortais aquelas sugestões que só levam ao desastre e ao derramamento de sangue.
 
 Dupla dinâmica: O latino Santiago Vega (Daniel Zovatto) e o detetive judeu Lewis Michener (Nathan Lane)investigam um crime misterioso...
 
Raul Vega (Adam Rodriguez) o líder sindical que bate de frente com o irmão...
 
Escrito por John Logan (Gladiador) com a colaboração de Jose Rivera (Diáios de Motocicleta) e Vinnie Wilhelm (The Terror) e dirigido por Paco Cabezas (Penny Dreadful), Roxann Dawson (The Americans), Sheree Folkson (Burn It) e Sergio Mimica-Gezzan (Medici: Mestres de Florença) Penny Dreadful: Cidade dos Anjos troca o foco da série original mas mantendo uma descendência espiritual com a série original. Sai a sombria Londres vitoriana e entra a ensolarada Los Angeles de 1938, imersa em tensões sociais e políticas. Sai a literaura gótica e entra o romance noir como inspiração narrativa, em muitos momentos lembrando Chinatown (1974) de Roman Polanski numa trama em que o embate das forças espirituais reflete-se na mescla na construção das primeiras freeways, as ricas tradições do folclore mexicano com as tramas de espionagem do ascendente Terceiro Reich e a ascensão do evangelismo midiático (que ecoa até hoje....) quando do outro lado do mar o ovo da serpente já havia eclodido e a sua prole já afiava os dentes para cobrar o seu preço em sangue...
 
Dr. Peter Craft (Rory Kinnear) se envolve com a misteriosa Elza Branson (Dormer)...
 
Maria Vega (Adriana Barraza) faz a faxina e cuida dos filhos de Craft...

Santiago Vega, ou Tiago (Daniel Zovatto de Lady Bird: A Hora de Voar) é o primeiro investigador mexicano de Los Angeles, enfrentando o racismo de seus colegas, sendo parceiro do Detetive judeu Lewis Michener (Nathan Lane de Espelho, Espelho Meu) que foi o único policial que aceitou ter um parceiro latino. Tiago tem como irmãos Raul (Adam Rodriguez de CSI: Miami), operário e líder sindicalista, Mateo (Jonathan Nieves de A Gente Se Vê Ontem) adolescente rebelde, e Josefina (Jessica Garza de The Purge) a caçula. Sua mãe (Adriana Barraza de Rambo Até o Fim),devota de Santa Muerte é empregada do Dr. Peter Craft (Rory Kinnear*1 de Catarina, A Grande) alemão natural de Essen e membro da Associação Alemã-Americana, grupo simpatizante nazista (“America Primeiro” é o lema deles), tem 2 filhos, Tom (Julian Hilliard de A Cor que Caiu do Espaço) e Trevor (Hudson West de American Crime Story) e tem problemas com a sua esposa alcólatra e frígida Linda (Piper Perabo de Dentro do Labirinto Cinzento) e se sente atraído pela Sra. Elsa Branson (Dormer também) natural de Berlin, mãe de Frank (Santino Barnard de Monsters) que seria casada com um homem que ela conheceu no pós-guerra na Alemanha, com quem casou por necessidade pois ele é um ´tipico americano médio e como ela diz: -“Ele ouve lutas no rádio, bebe cerveja. Não tem curiosidade por nada. Não sabe nada.” e assim o bom médico (que guarda um segredo quanto a suas origens) vai sendo aliciado para o seu plano de radicalizar a cidade.
 
O ambicioso Carl Towsend (Michael Gladis) espera tornar-se prefeito...

Mulher de fases: Rio, Elsa Magda e Alex...

 
Tiago, quando era um menino de 10 anos, presenciou a morte de seu pai Jose Vega (Holger Moncada Jr. de Grand Hotel) numa disputa entre Magda e Santa Muerte e tendo sido marcado por esta no peito (uma mancha com o formato de sua mão) vindo daí o interesse de Magda nesta família, aproximando-se de Maria com envolventes promessas de um futuro glorioso frente à guerra que se aproxima. Nestes momentos vemos os elementos sobrenaturais e culturais se enraizando no enredo principal e ganhando ainda mais força através do tradicionalismo de Maria e de seus deuses, fundindo o mundano com o espiritual numa palpabilidade chocante e arrepiante.
 
Mateo (Jonathan Nieve) e Tiago Vega entram em choque...

Mateo se une a Fly Rico (Sebastian Chaco) e Rio (Dormer) dos Pachucos...

 Vega e Michener respondem ao Capitão Ned Vanderhoff (Brent Spiner de Star Trek: Picard) que os encarrega de investigarem o brutal assassinato ritualístico de James Haslet e família, ele, sócio empreiteiro da companhia responsável pela abertura da autoestrada de Arroyo Seco, e figura importante na igreja, o Ministério Belas Vozes, da qual a irmã Molly Finnister*3 (Kerry Bishé) se destaca, vivendo só para o radio evangelismo, numa gaiola dourada regida à mão de ferro por sua mãe Miss Adelaide (Amy Madigan de Uma Mulher Americana) e seu sinistro guarda-costas Randolph (David Figlioli de Lúcifer). Santiago e Molly acabam se relacionando apesar das barreiras raciais, sociais e religiosas, até o momento em que seus mundo colidem...
 
Engaiolada: A Irmã Molly Finnister (Kerry Bishé) do Ministério Belas Vozes...

Carcereiros: Randolph (DavidFiglioli) & Miss Adelaide Finnister (Amy Madigan) cercam Molly


Nesta confluência de forças antagônicas ainda temos o ambicioso vereador Carl Towsend (Michael Gladis de The Fix) chefe do comitê de transportes, conselho que poe a todo custo a construção da autoestrada de Arroyo Seco, passando por cima de uma comunidade mexicana, entrando em rota de colisão com a comunidade latina. Planeja ainda passar por Bunker Hill a comunidade negra fazendo conluio com Richard Goss (Thomas Kretschmann de Vingadores: Era de Ultron) um agente nazista sócio da Goss and Ossenberg empresa responsável ´pela obra das autobans alemãs e para os planos de expansão propoe a financiar a campanha de Towsend para a prefeitura, em troca de favorecimento em licitações de obras públicas. Ele é auxilado por Alex Malone (Dormer também) sua assistente, a verdadeira força por trás do político carreirista. Towsend enfrenta no conselho a oposição da vereadora Beverly Becky (Christine Estabrook de Mad Men) que enxerga as suas ambições populistas, e para piorar, Towsend ainda carrega o ranço de não ser apoiado por seu pai Jerome (Brian Dennehy em um dos seus últimos papéis) um magnata que já antecipa o futuro boom da aviação comercial que ocorrerá ne guerra vindoura e, após esta, investindo já no que será a futura infraestrutura necessária, não ligando para a questão das autoestradas defendidas pelo filho, para o qual ele não passa de “um fraco, um maricas gordo e feio”, não lhe dando suporte.
 
Towsend vê na aliança com os nazistas uma oportunidade de vitória poliítca...

 
... diferente de seu pai Jerome Towsend (Brian Dennehy) que já olha para futuro após a guerra iminente...

 
Mateo passa a frequentar o clube The Crimson Cat através de Fly Rico (Sebastian Chacon de Narcos) e se envolve com os Pachucos*2, gangue liderada por Rio (Dormer também) que incita os latinos a se rebelarem contra as autoridades, para incentivar um clima de guerra civil, como no momento em que incentiva uma rebelião por causa de um linchamento policial, e neste momento, Peter Craft, Elsa e os garotos são encuralados no meio do conflito, o que empurra o médico (contra a sua vontade) à unir forças com Herman Ackermann (Ethan Peck de Star Trek: Discovery) membro da organização nazista americana.
 
Michener protege Brian Koenig (Kyle McArthur) um gênio científico não muito preocupado com as implicações morais de seu trabalho...

 
Botando fogo: Rio levanta a população latina criando conflito...

 
Michener e Tiago Vega passam a vigiar Goss por conta própria, vendo a aproximação dos nazistas com as ambições políticas de Towsend, e com o Ministério Belas Vozes mostrando um complexo quadro de influências, além de protegerem Brian Koenig (Kyle McArthur de The Deuce) um promissor geniozinho tecnológico obcecado pelas possibilidades de seu trabalho no desenvolvimento de mísseis balísticos e da bomba atômica, mas incapaz de pensar nas consequências caso estes estudos sejam aplicados num possível campo de batalha. Brian tem o perfil ideal para ser usado pelo Reich...
 
No olho do furacão: O Capitão Ned Vanderhoff (Brent Spiner) tenta manter a ordem...

Sincretismo: Maria Vega é devota da Santeria e da Santa Muerte...

 
A fotografia de John Conroy (The Terror) usa bem dos tons quentes da ensolarada Los Angeles, enfatizando caldeirão étnico e social prestes a entrar em ebulição, auxiliada pela edição de Tad Dennis (The Outsider), Iain Erskine (Narcos: Mexico) e Benjamin Howdeshell (A Rainha do Sul), acompanhada pela musica de John Paesano (Maze Runner: A Cura Mortal) com seus acordes pontuais seja nos momentos mais intimistas ou mais vibrantes como nos momentos no The Crimson Cat onde a música latina acelera a narrativa.
 
Linda Craft (Piper Perabo) e seus filhosTom (Julian Hilliard) Trevor (Hudson West)...

 
Ao tomar o lugar como patroa, Elsa confronta Maria Vega...

 
Os efeitos visuais da Ingenuity Studios em parceria como desenho de produção de Maria Caso (Deadwood) e a direção de arte de Adam Alonso (O Escândalo Dep. de arte), Jason Garner (Kingdon), James Maloof (Deadwood , Dep. de arte) e David Potts (O Atirador) resgataram bem os ambientes da fervilhante Los Angeles da década de 1930 com suas avenidas cheias de cinemas, e ambientes requintados como o Clube Privê gay onde Towsend leva seu amante Kurt (Dominic Sherwood de Shadow Hunters), assassino nazista, capanga de Richard Goss, para dançar, ou do lado latino The Crimson Cat onde a comunidade latina reúnes todas as “tribos”, mas o que salta é a suntuosidade do estilo Art Deco, bastante popular nos ambientes sociais e no cinema*4 comum na casa dos Kraft, na sede da Goss and Ossenberg ou no escritório de Towsend, ou ainda na casa comprada por Benny Berman (Brad Garret de Bull) mafioso judeu ligado a Meyer Lansky (um dos grandes mafiosos da época) com quem Michener tem aliança, contrastando com os ambientes simples das casas populares dos personagens latinos em Arroyo Seco como o cemitário onde os Vega celebram o Dia dos Mortos, ou a casa dos Vega e o apartamento de solteiro de Tiago ou a grandeza funcional do ministério Belas Vozes com seu teatro imponente mas de aspecto seco, utilitário, além dos figurinos de Christie Wittenborn (Ray Donovan) que mostram o choque de civilizações e classes sociais nos paletós surrados de Tiago e Michener, em contraste com os bem cortados ternos de Goss e Towsend, ou a diversidade dos trajes latinos simples da classe operária com os trajes zoots (coloridos e extravagantes) do pachucos, além da multifacetada Magda em suas encarnações de Elsa, Alex e Rio, cada uma com um estilo e identidade visual distinto.
 
O figurino capricha nas mudanças de Magda, em todas as suas facetas...

 
Molly e Tiago engatam um romance apesar das diferenças de seus mundos...

 
Ao final Penny Dreadful: Cidade dos Anjos prepara o terreno para a temporada seguinte onde as forças em confronto definem os seus lados, cada qual instigado por uma das facetas de Magda (Alex, Rio, Elsa) que aproveitando o distanciamento de sua irmã, pretende incendiar a cidade, e, dialogando com o momento atual, nitidamente criticando a América de Donald Trump na cena final quando Carl Towsend celebra a ascensão de sua carreira política, colhendo os louros de sua dúbia vitória, ao que Santiago Vega declara: “- Eles não estão construindo estradas, mas sim muros!”
 
 A guerra virá, seja na Europa, seja dentro de cada casa e família... 
 
-"Vai dar ruim..."

 
Obs: Infelizmente não veremos a conclusão destes arcos pois a baixa audiência levou a Showtime a descontinuar a série em sua primeira temporada
 
 
A Santa Muerte em suas cenas reproduz a iconografia sacra...

 
 

Notas:


*1: Kinnear foi o único ator a participar do seriado original, onde viveu John Clare, o Monstro de Frankenstein.
 
*2: Pachuco é um termo que se acredita ter surgido originariamente na cidade de El Paso, Texas, caracterizados pelo uso dos trajes zoot (um terno bem comprido e largo, complementado por calças igualmente largas e de cintura muito altas) os Pachucos, e as Pachucas, mulheres que adotavam esse modo de vida (tendo também a sua versão do traje zoot) desafiavam abertamente a cultura dominante em seu vestuário, dança e abraçando a sua língua e cultura nativa, carregando com orgulho sua origem mexicana, ainda que fossem imigrantes, sendo vistos com medo por desafiarem as normas sociais dominantes (inclusive quanto as questões de relacionamento e de gênero) sendo os homens difamados como criminosos e as mulheres como promíscuas.
 
 
 

*3: A série se baseia em Aimee McPherson, uma das primeiras grandes pastoras evangélicas do anos 30 (que também serviu de fonte de inspiração para a personagem Irmã Alice McKeegan de Tatiana Maslany em Perry Mason), pioneira no uso da mídia como forma de alcançar e seduzir mais seguidores de sua Igreja Quadrangular, de pé até hoje, e cujo templo principal está localizado exatamente em Los Angeles, cujo senso de espetáculo marcou sua história, sendo replicada por líderes evangelistas através dos anos.
 
 
 

*4: Neste período Imperava em Hollywood, aliado à indústria da moda e ao consumismo em geral, o estilo Art Deco, também fortemente presente na arquitetura, tendo como principais adeptos Cedric Gibbons e Joseph Urban, figuras de proa no meio teatral e cinematográfico. Ambos arquitetos por formação tal qual Charles D. Hall (que criou o visual dos clássicos de horror da Universal Pictures) e ao contrário dele se valeram deste estilo glamuroso em voga para valorizar a função de diretor de arte, criando inclusive o conceito do “Super-Diretor de Arte”, responsável por tudo o que se via na tela, que se por um lado agregava prestígio à categoria, por outro criava uma visão distorcida do ofício, servindo mais para diminuir a importância da colaboração de outros profissionais em comparação ao seu próprio trabalho. Por exemplo, Gibbons em seus 30 anos de atividade à frente da MGM, onde estabeleceu o estilo extravagante do estúdio, foi creditado como responsável pelo design de 1500 filmes, o que era humanamente impossível, mostrando uma legião de colaboradores mantidos o anonimato, coisa semelhante ocorreria anos mais tarde na Paramount Pictures, onde a figurinista Edith Head era creditada por todos os figurinos de toda a produção do estúdio (participasse ou não da produção...).
 

 

 

"Maldita Showtime! Melou a minha série!!!"