Tristeza não tem fim...?
por Alexandre César (3 Velhos Nerds)
Segunda temporada mantém o pique mas revela suas fragilidades
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Os Baudelaire e um de seus vários oponentes: a irritante Carmelita Spatz (Kitana Turnbull) a "Shirley Temple do Mal" |
Chegando a sua segunda temporada, Desventuras em Série, série da Netflix, tendo Neil Patrick Harris como o vilão cartunesco Conde Olaf, ávido como um abutre para pôr as mãos na herança dos órfãos Baudelaire, seus (de grau bem afastado) sobrinhos Violet (Malina Weissman) a inventora do quer que necessite, Klaus (Louis Hynes) gênio da absorção de qualquer conhecimento escrito e, Sunny (Presley Smith) bebê (ou agora, uma criancinha! Afinal, ela cresce como toda criança e vai desenvolvendo habilidades!) De dentes afiadíssimos, usuária da “linguagem dos bebês”, que apenas os seus irmãos entendem, se cristaliza no que tem de bom e, no que pode ser o seu fator limitador.
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Olaf (Neil Patrick Harris) e seus disfarces, um cada vez mais estapafúrdio do que o outro, mas que funcionam |
Descobrindo no internato os “trigêmeos”(um teria morrido no incêndio que destruiu a sua mansão tal qual a dos Baudelaire...) Isadora e Duncan Quagmire ( e ) , praticamente uma versão espelhada deles mesmos, tendo inclusive ”perdido” seus pais da mesma forma, eles procuram descobrir os mistérios que cercam as duas famílias e os segredos da misteriosa sociedade secreta, CSC, que tem como símbolo um olho, da qual seus pais, alguns de seus tutores (e desafetos), Olaf, Lemony (Patrick Warburton) e seu heroico irmão Jacques Snicket (Nathan Filion, ótimo) faziam parte.
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Os órfãos Klaus, Violet e Sunny Baudelaire ( LouisHynes, Malina Weissman e Presley Smith) e os órfãos Isadora e Duncan Quagmire (Avi Lake e Dylan Kingwell) |
A nova temporada de 10 capítulos, adapta os 5 livros seguintes da série (Inferno no Colégio Interno, O Elevador Ersatz, A Cidade Sinistra dos Corvos , O Hospital Hostil e O Espetáculo Carnívoro) da série de 13 livros de mesmo nome escritos por Daniel Handler (pseudônimo de Lemony Snicket) com Warburton continuando o seu ótimo trabalho de narrador melancólico que vai narrando os desencontros e as tragédias dos Baudelaire, sempre nos lembrando, que devemos mudar de canal se estamos a procura de histórias felizes.
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Lazy Town: estrutura narrativa semelhante |
A opção inicial de unir os órfãos dinamizou a narrativa, mas, quando se poderia mudar as interações entre eles, trocando as duplas, o que ajudaria aos atores a desenvolver ais os personagens, eles logo são separados, voltando a mesma estrutura já consagrada.
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Os capangas de Olaf e Lemony Snicket (Patrick Warburton): Maior individualização e melhor caracterização |
O formato de um livro para cada dois episódios apesar de acertada, já começa em termos narrativos apresentar alguns problemas pelo fator da repetição estrutural da história que praticamente não muda, a mesma fórmula dos livros, mas no áudio visual depois da terceira vez vai ficando cansativo principalmente se você a maratonar (o que foi o nosso caso) pois continua a sequência: Olaf chega ridiculamente disfarçado coisa que só as crianças percebem enquanto os adultos idiotas (que não o reconhecem) caem na sua lábia, ele os atormenta com estratagemas cruéis, até que os Baudelaire o desmascaram, quando fugirá para preparar outro golpe. Em alguns momentos me lembrou vagamente a estrutura do seriado Lazy Town, onde o vilão Rob Roten se disfarça, engana todo mundo, o herói Sportacus salva o dia e no final o disfarce cai e todos o reconhecem. A repetição é necessária para as crianças pequenas mas começa a se fazer urgente formas de burlá-la para um público mais amplo.
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Esmé Squalor (Lcy Punch) peruíce a enésima potência e uma queda para a teatralidade que rouba a cena de Olaf em alguns momentos. |
O correto e “tolo” (para ser gentil...) Sr. Poe (K. Todd Freeman), o testamenteiro oficial, encarregado de encontrar um lar para as crianças, bem como os adultos à volta dos pequenos continuam cada vez mais influenciáveis pela malandragem de Olaf, com consequências catastróficas para os Baudelaire. Não é difícil de enxergar certa analogia com grupos políticos e econômicos que manipulam grupos sociais em vários países, gerando aí um sentimento de angústia pela sina das crianças. Pois aqui coisas ruins acontecem com pessoas boas, não importa quão honradas e abnegadas elas sejam...
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Os valentes voluntários: Jacques Snicket (Nathan Filion) e Olivia Caliban (Sara Rue). ótimas adições a trama. |
Temos outros personagens enriquecendo a narrativa em um ou mais arcos narrativos como a irritante Carmelita Spats (Kitana Turnbull) megera-mirim trajada de rosa com visual de Shirley Temple, a abnegada bibliotecária (Sara Rue) e a perua Esmé Squalor (Lucy Punch) e também um maior espaço individual dos membros da trupe de Olaf, cada um desenvolvendo mais as suas características, aproveitando o espaço narrativo, uma vez que os Baudelaire não apresentaram mudanças significativas (não que eles sejam ruins, pelo contrário, pois “segurar a peteca” como eles seguram sem mudanças nos personagens é para poucos...).
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Klaus, Violet e Sunny: Pé na estrada. O clifhanger de final de temporada promete grandes emoções dignas dos velhos seriados dos anos 30/ 40. Esperemos |
Chega-se à conclusão que se a CSC fosse a Ordem Jedi de Star Wars, Olaf seria o Anakim Skywalker, o membro que sucumbiu para o lado negro...
A direção de Barry Sonnenfeld (A Família Adams e Homens de Preto) e o trabalho do designer de produção Bo Welch, continuam impecáveis apesar de tudo, na sua criação de um universo anacrônico e retrô, onde a tecnologia parece estar entre os anos 20 e 40, mas tanto o Sr. Poe e esposa (e Olaf na temporada anterior...) dizem preferir ficar em casa à noite vendo filmes via streaming, ou outras coisas como uma comunidade afastada que se comporta como os puritanos do séc. XVIII, e mais adiante um colégio interno tipo anos 30 com um computador digno do início da década de 70.
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Junto (Tony Hale) o marido covarde e submisso de Ésme Squalor |
Agora como faltam apenas 4 livros, provavelmente a série cainhará para o seu desfecho, uma vez que os atores mirins estão crescendo, é inevitável que se encerre este arco das mazelas dos pobres irmãos Baudelaire, a não ser, que o próprio autor, escreva capítulos a mais expandindo as possibilidades do seu universo ficcional. Tal decisão seria arriscada, mas às vezes o improvável não é sinônimo de impossível.
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"- Se Eu fizer isso errado va doer um pouquinho, mas seu fizer certo, doerá um poucão! He! He! He! |
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