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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Crítica - Séries: Raio Negro 1ª temporada


Lá vem o negão...
por Alexandre César 

 Série da Warner Chanel/ DC discute fundo o  racismo

 

O diretor Jefferson Pierce (Cress Williams) e seu alter-ego 
heróico: Estiloso como um Idris Elba genérico


O “Maioral, o herói de Freeland (no original ele residia em Metrópolis, no Beco do Suicídio), se aposentou. Trocou o uniforme pelas vestes de educador por saber que a educação é, de fato, o único e verdadeiro elemento de transformação dos indivíduos e da sociedade. Tornou-se um dos melhores educadores da sua cidade e dedicou mais tempo à família, sendo referência para suas filhas e sua comunidade sobre como é ser um paizão amoroso e dedicado, ensinando a todos como enfrentar o racismo dentro das regras. Foram nove anos ausente das ruas. Nove anos em que os ratos fizeram a festa na ausência do gato. Mas agora os ratos deram lugar às ratazanas e as ratoeiras já não funcionam mais...
 

Herança: A caçula Jennifer (China Anne McClain) vai 
desenvolvendo poderes similares aos do pai.
Inspirado nos quadrinhos da DC Comics de Tony Isabella e Trevor Von Eden, Raio Negro, nova série feita em parceria Warner Channel e Netflix, traz novas cores ao mesclar a temática super-heróica ao apelo Blaxsploitation, apresentando uma maior representatividade do negro e o combate ao racismo estrutural da sociedade, seja ela norte-americana e além.

Anissa (Nafesa Williams) e Jennifer: As superpoderosas meninas do papai
Com um roteiro enxuto, mostrando logo de cara a que veio, Jefferson Pierce (o estiloso Cress Williams) apesar de membro ilustre da sociedade, sofre nas ruas as mesmas humilhações que seus irmãos por parte dos policiais e do status quo. Mas continua firme e digno, dando o exemplo para os mais jovens, como quando aconselha a sua filha mais velha Anissa (Nafesa Williams), a rebelde ativista da família e lésbica assumida (que nos quadrinhos e na série se torna a super-heroína Tormenta): “- Você é uma mulher negra. Você não pode se dar ao luxo de ser ingênua!
 Sua filha caçula Jennifer (China Anne McClain) vive os dilemas típicos da adolescência em relação aos prazeres e perigos a vida (fora os decorrentes da manifestação dos seu poderes , que como a irmã , a tornará a super-heroína Rajada). 

Jefferson volta a usar o uniforme de Raio Negro
 e a combater as gangs de Freeland
Ele também se afasta d a via de super-herói por amor às suas filhas e a sua ex-esposa Lynn (a bela Christine Adams), por quem ainda “arrasta um prédio”. Ela foi a principal responsável por sua aposentadoria como vigilante, pois Lynn sempre temia que um dia ele saísse para enfrentar o crime não retornasse mais. O afastamento de Jefferson abriu espaço para que as ruas fossem tomadas pela Gangue dos 100, chefiada pelo cruel Tobias Whale (o rapper Marvin “Krondon” Jones III), um negro albino que está para o Raio Negro como o Wilson Fisk, o Rei do Crime, está para o Demolidor (da rival Marvel). Tanto que o criminoso cria um movimento para desacreditar Jefferson como herói quando este retorna as ruas, lembrando A Queda de Murdock - um dos melhores arcos das HQs do Demolidor, Com texto de Frank Miller e ilustrações de David Mazzuchelli, na saga o herói cego come o pão que o Wilson Fisk amassou...

Tobias Whale (o rapper Marvin “Krondon”Jones III e a versão
 dos quadrinhos): Perigo real e imediato

Como todo herói precisa de suporte, ele recorre a Peter Gambi (James Remar) o seu “mordomo Alfred” que monitora as suas ações, o aconselha e aperfeiçoa o seu traje - apesar de guardar segredos sobre o seu passado como membro de uma agência (supostamente) do governo. Segredos que acabam colocando ele em choque com Raio Negro.

Bill Henderson (Damon Gupton) e "Lala"(Will Catlet): O policial
 honesto e o capanga que começa bem mas é subaproveitado
As atividades de de Martim Proctor (Gregg Henry), o agente da Agência de Segurança do Exército dos EUA (ASA), remetem às atitudes do governo Trump, (até o tipo físico do ator e o jeito de falar lembram o presidente de cabeleira laranja...). A agência planeja usar os “meta-humanos"  fabricados pela exposição ao vício da droga green light para fazer a “América incrível de novo!”.
 

o herói passa um dobrado para não perder a paciência 
com os policiais racistas e abusados...

Os capangas de Whale - Latavius Johnson, o Lala ou Tattooed Man (Will Catlett, que inicia um arco interessante na série que é abruptamente interrompido); Syonide (Charbi Dean, a típicavilã louca” bidimensional); Khalil Payne, o Painkiller (Jordan Calloway, o bom moço corrompido por Whale) - variam de profundidade, e provavelmente serão mais esmiuçados na temporada seguinte. Coisa semelhante que deverá ocorrer com a traíra Kara Fowdy (Skye P. Marshall), a agente infiltrada da ASA na comunidade de Freeland e na escola de Pierce. Ela ainda dará trabalho, a julgar por sua permanência ao término da temporada.

Peter Gambi (James Remar): O alfaiate e "Alfred" do herói
Devemos observar que a família Pierce, caso a mãe fosse também super-poderosa, acabaria sendo uma versão afro-americana de Os Incríveis, da Disney. Mas termos aqui uma mulher normal, uma âncora com o mundo real onde os mortais enfrentam as consequências dos atos dos deuses

Pierce e sua ex-esposa Lynn (Christine Adams):
 Ótima cena de reconciliação do casal
O detetive Bill Henderson (Damon Gupton) caminha a passos largos para ser o Comissário Gordon” do Herói, com a sua postura de ser um dos poucos policiais honestos numa força corrupta. As equivalências são nítidas, mas ajudam a história a fluir.

Tobias Whale e Syonide (Charbi Dean): Capangas 
que necessitam de profundidade
Apesar de mostrar os problemas cotidianos dos negros nos Estados Unidos - como a violência policial, a falta de oportunidades que empurra a maioria para o crime e as drogas e a representação do negro na mídia - o tom da série não é panfletário e nem vitimista tendo como seu pilar o protagonista que, mesmo sendo um vigilante que toma a lei em suas próprias mãos, ainda acredita mais na recuperação do criminoso do que na pura e simples punição. Raio Negro enxerga os tons de cinza da realidade, e não os meros “preto e branco”, “bem e mal”, maniqueístas e comuns ao gênero super-herói.

Khalil Payne, o Painkiller (Jordan Calloway): 
Semelhanças e diferenças na adaptação.
Que se acautelem os meliantes e policiais “arregados”, pois agora, o “cara” está de volta, e ele têm companhia da boa! Pois uma família unida é uma família forte!!!
 

Se não pode vencê-los, treine-os: Anisa, como 
Tormenta, começa a ajudar o paizão a enfrentar o mal...

Um elenco bom e descolado.

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