Famílias disfuncionais, relacionamentos tóxicos e o adeus...
por Alexandre César
E Daniel Rand se despede acertando o passo
Desde que a Marvel /Netflix iniciou o seu ciclo de séries de
“Heróis de Rua”, personagens que não gozavam do status de um Homem de Ferro ou de um Capitão América mas tinham o seu nicho de fãs e o potencial para histórias mais realistas, sem a necessidade do suporte de uma superprodução, o seriado se mostrava um formato ideal para este universo ficcional. Demolidor, foi o mais bem sucedido, seguido de Jessica Jones e de Luke Cage que tiveram méritos apesar de falhas ocasionais, seguidos em seguida de Punho de Ferro, que se revelou o mais problemático, parecendo uma causa perdida para muitos quando a série chegou no ano passado, sendo alvo de tantas críticas e comentários negativos, que um segundo ano para muitos fãs estava quase fora de cogitação.Mas, apesar dos pesares, a série retornou, com um novo produtor (M.Raven Metzner que substitui Scott Buck) e uma equipe técnica diferente e reduziu o número de episódis dos 13 iniciais para 10 no intuito de reduzir “adiposidades narrativas”... E mostrou ser ainda merecedor de crédito apesar de tudo.
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Faceta 1: a Meiga "Mary" (Alice Eve) se encanta por Danny...
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A única motivação do Punho de Ferro até então havia sido a sua missão de derrotar o Tentáculo, algo que foi definitivamente eliminado na 1ªTemporada de Os Defensores , mas ao contrário de Jessica Jones, Luke Cage ou do Demolidor, Danny Rand (Finn Jones, mais à vontade no personagem) não tinha temáticas alternativas muito bem definidas para explorar em sua própria série e, findo o Tentáculo, as gangues de Chinatown preencheram o vácuo existente, disputando o domínio do crime na cidade, ficando de um lado os Carrascos e de outro, os Tigres Dourados, sendo o controle das docas o motivo dos primeiros conflitos entre essas organizações criminosas.
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Faceta 2: ...mas dando lugar à fria e letal Walker
(Allice Eve). Devemos em futuro próximo ver mais "alguém"...
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Pela necessidade de dar uma razão de ser ao herói, nada melhor do que voltar aos elementos de K’un-Lun para firmar a sua identidade de herói marcial. Embora tecnicamente superior, a segunda temporada é muito vinculada à primeira, de onde vem o seu grande vilão, Davos (Sacha Dhawan), bem como todos os elementos que constroem a nova narrativa. São 10 episódios e dois arcos de histórias. No primeiro, se constroem as alianças e suas motivações, culminando no terceiro capítulo, onde são reveladas as intrigas, seguidos do arco seguinte, mais interessante, onde as tramas se interligam.
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Davos para atingir seu intento se alia a Joy Meachum
(Jessica Stroup à direita) e inclusive rompe seus votos...
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Há alguns momentos para agradar os fãs dos quadrinhos, como por exemplo, a polícia categorizar como 616 as chamadas quando se trata de “possível suspeito com habilidades”. Esse é o número do universo principal da Marvel Comics, bem como nos flashbacks de Danny e Davos em K’un Lun, os vemos com uma versão do traje e da máscara icônica do personagem, elemento cuja ausência na 1ª Temporada e em Os Defensores fêz muita falta, pois um herói sem o seu uniforme, perde muito de sua identidade.
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Os flashbacks em K’un-Lun enriquecem a
narrativa sobre a relação dos antagonistas.
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Abuso traumático também está vinculado à grande surpresa da temporada, uma personagem que aproveitou ao máximo sua presença: Mary Walker (Alice Eve, ótima, entregando a melhor performance na carreira) . Sua atuação, similar a de James McAvoy em Fragmentado (2017), rouba a cena ao mostrar uma personagem com transtorno de personalidade múltipla, sendo uma Alice, meiga, romântica, fofa, e a outra Walker, uma mercenária fria e calculista. Ao longo da temporada, do primeiro ao último episódio, pois a sua caminhada é relacionada a uma situação de aprisionamento em zona de guerra e o consequente abuso a que as mulheres costumam ser submetidas neste contexto. É nesse ponto que a série se conecta com Vingadores a Era de Ultron (2015) e Capitão América: Guerra Civil (2016) pois ela é uma combatente aprisionada em Sokovia. Criada por Ann Nocenti e John Romita Jr. Em 1988 nas páginas de Demolidor, A personagem Mary Alice Walker é a vilã Mary Typhoid que ainda deve dar as caras e gerar muita dor de cabeça pois se indica que “alguém” (que não era nem Alice e nem Walker) salvou a combatente dos guerrilheiros sokovianos, com requintes de crueldade. Esperemos se vai rolar...
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Girl Power: Misty Knight (Simone Missick) e
Coleen Wing (Jessica Henwick). Boas na amizade...
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Nesta temporada sentimos a ausência da Enfermeira Noturna (Rosario Dawson) que até então costumava ser o elo de ligação entre todos os personagens do universo de séries Netflix/ Marvel, mas temos a presença de Misty Knight (Simone Missick) que menciona os eventos passados na última temporada de Luke Cage, inclusive questionando os rumos tomados por seu protagonista.
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... melhores ainda na pancadaria. Veremos
algum dia "As Filhas do Dragão"???
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Uma grande sacada também desta temporada foi dar um maior protagonismo a Colleen Wing (Jessica Henwick), transformando a personagem em uma co-protagonista, tornando Punho de Ferro numa série sobre os dois, numa decisão muito acertada. Transformar Colleen em uma descendente de Wu Ao-Shi (a Rainha Pirata de Pinghai, primeira a invocar o poder supremo de K’un-Lun) não apenas inseriu sua transformação no cânone, como abriu novas possibilidades. Caso possam retomar esse universo ficcional, haverá a oportunidade de mergulhar de vez nas
águas da Wuxia, gênero de fantasia chinesa que mistura lutas ao fantástico – inclusive preparando terreno para uma versão das Filhas do Dragão, série da Marvel nos quadrinhos,com Colleen Wing e Misty Knight, que juntas são sócias da Knightwing Restorations uma empresa de fachada da sua agência de investigações, e nesta temporada demonstram ótima química entre as suas intérpretes suplantando em muito até o protagonista principal.
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As meninas inclusive seguram melhor a onda do que
os manos Luke Cage (Mike Coulter) e Danny Rand.
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A Segunda Temporada se mostra mais eficiente nas coreografias de luta (graças a Clayton Barber de Pantera Negra ) e, sendo uma continuação bastante conectada à primeira, encerra as pontas de um passado problemático e até... “chato”, que faz a inclusão de uma nova personagem mas com argumentos bons, não verdadeiramente empolgantes. Porém, foi um avanço se comparada à Primeira Temporada. Embora tenha todos os arcos fechados com coerência, o final da série deixou (muito bem) portas para novos rumos a serem trilhados, como a capacidade de seus protagonistas conseguirem inserir seu chi em objetos, como a Katana empunhada por Colleen, ou as armas que Danny aprende a utilizar (fazendo citação a Orson Randall, um dos Punhos de Ferro do passado). Uma vez que a Marvel/ Netlix anunciou o encerramento das séries do personagem, bem como de Demolidor , de Luke Cage , ainda não tendo se pronunciado sobre Jessica Jones , O Justiceiro ou Os Defensores , só podemos esperar se estas pontas em aberto ainda serão de alguma forma fechadas nestas séries ou em longa-metragens solo ou se a Marvel migrará seus personagens para o serviço de Streaming da Disney, cujo foco até o presente seria o de um público “mais família”, bem diferente do público-alvo dos seriados em parceria com a Netflix.
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Ferramentas energizadas: O "Shi" pode fluir
de um punho para uma katana....
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