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quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Crítica - Séries: Legion - 1ª temporada




Fora da casinha

por Alexandre César 

Série mutante da FX tem narrativa surpreendente 


David Haller (Dan Stevens): esquizofrênico e 
“Lenny” Busker (Aubrey Plaza): passado junkie

 Experimentalismo. É a palavra que vem à cabeça após acompanhar os oito episódios da 1ª temporada de Legion, série ambientada no universo mutante da Fox/Marvel, aqui veiculada no canal a cabo FX e em streaming pela Netflix.
 
 
Dra. Melanie Bird (Jean Smart): métodos não-convencionais
 
 
Criada por Noah Hawley (Fargo, a série. Também encontrada na Netflix) e tendo na produção nomes como Lauren Shuler Donner e Brian Singer, responsáveis pelos filmes dos X-Men, a série compartilha o mesmo universo ficcional dos mutantes, mas não se preocupa em forçar vínculos com os filmes. Isto felizmente lhe confere uma identidade própria com experimentação de recursos estilísticos na narrativa numa escala até então inédita numa série de temática de super-heróis. Tudo - fotografia, edição, direção de arte, música (Jeff Russo, inspirado em Pink Floyd), efeitos visuais, roteiro e direção de atores - usa de grande experimentação para quebrar a forma linear de narrativa comum ao gênero, que - seja na tv aberta, seja no streaming - estava engessando-o. A produção não teve medo de se ariscar ao contar uma história “fora da casinha” da fórmula “série de super-heróis” , num resultado que, se não é perfeito, conta com muitíssimos mais acertos do que erros. 
 
Entre os novos amigos de David encontra-se o telepata Ptonomy 
Wallace (Jeremie Harris)

 
 Ambientada numa época indeterminada, que mescla um visual retrô dos anos 1960/70 e além, acompanhamos a vida do perturbado David Haller (Dan Stevens, ótimo) que, ainda jovem, foi diagnosticado como esquizofrênico. Vivenciou um histórico de internações e medicações pesadas e descobre posteriormente que a razão de seu estado mental são seus poderes mutantes, que alcançam uma escala jamais vista. David é vigiado por uma agência governamental até ser resgatado por um grupo de mutantes que mantém algumas similaridades com personagens conhecidos nos quadrinhos de mutantes da Marvel, seja em seus poderes ou no visual. Elas são sutis, mas é só prestar atenção aos detalhes espalhados ao longo da série para pescá-las. O grupo se constitui de “Syd” Barrett (Rachel Keller, em uma outra referência ao Pink Floyd), que não pode tocar nas pessoas e torna-se namorada de David; os irmãos Cary (Bill Irwin) e Kerry (Amber Midthunder) Loudermilk, que compartilham o mesmo corpo, sendo ele um cientista brilhante e ela uma lutadora marcial; Ptonomy Wallace (Jeremie Harris), com poderes mentais; e a líder, Dra. Melanie Bird (Jean Smart), uma terapeuta psiquiátrica que trabalha com métodos não-convencionais.
 
Clark (Amish Linklater) caça David,não dando sossego a seus 
parentes, como sua irmã adotiva Amy (Kate Aselton)
 
 
Baseado no personagem de Chris Claremont e Bill Sienkiewicz, David Haller nos quadrinhos é o mutante Legião, filho do Prof. Charles Xavier, e apresenta múltiplas personalidades, tendo cada uma um poder distinto. 
 
 
Os irmãos Cary (Bill Irwin) e Kerry (Amber Midthunder)
 Lowdermilk dividem o mesmo espaço corporal, mesmo! 
 
 Como o ponto de vista da narrativa da série é calcado em David e sua mente fragmentada, nunca sabemos de cara se o que vemos é real, alucinação ou uma reimaginação de sua mente da sua história. Sempre ficamos em dúvida sobre como é afinal o seu relacionamento com seus pais e com a irmã Amy (Katie Aselton) ou as suas lembranças da relação com “Lenny” Busker (a ótima Aubrey Plaza), sua amiga dos tempos de junkie. É em suas lembranças de Lenny que se encontram muitos elementos-chave de seu passado, que é recriado em sua mente em várias camadas.
 
Os efeito visuais auxiliam na narrativa criando cenas surreais 
de grande impacto visual que refletem o estado mental de David
 
A rica  direção de arte situa através de cenários e figurinos a trama 
num período de tempo não determinado entre os anos 60 e 70
 
 
 Até o 4˚ episódio temos uma avalanche de cenas surreais contando e reescrevendo as lembranças de David, quando então começamos a entender quem e o que ele e seus amigos (e inimigos) são de fato. Se você não é o espectador atento, que presta atenção em tudo, corre o risco de ficar perdido. Este é um seriado em que assistir pelo serviço de streaming – podendo voltar cenas e rever capítulos anteriores a qualquer momento – faz toda a diferença.
 
 
A bela e complicada "Syd" Barrett (Rachel Keller),
 par romântico do perturbado herói
 
Em termos de ambientação no universo dos X-Men no cinema, percebemos que a trama se passa em algum momento anterior a primeira trilogia dos filmes (quando os mutantes já são de conhecimento público). Aqui o governo ainda está descobrindo o que são os mutantes. Portanto, algum crossover com personagens dos filmes no futuro é improvável. Até porque, da forma como as linhas temporais dos filmes são confusas (só perdendo para a franquia dos Transformers), encontros deste tipo talvez gerassem mais confusões na cabeça do espectador do que bons momentos narrativos.
 
 
Dr. Oliver Bird (Jemaine Clement): Um dos fundadores da equipe
 
 
O final da temporada e a cena pós-créditos abrem possibilidades para a expansão do universo narrativo na série numa escala que só o tempo (e possivelmente o orçamento) dirá. Cruzemos os dedos. 
 
 
Pesadelos: O "Rei das Sombras" é uma figura que persegue 
David em sua mente desde a infância...
 
 
 
 
 
 
 

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